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Escritor e psicólogo, analista didata da Associação Junguiana do Brasil.
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POESIA SEMPRE Ano 8 Número 12 - .Editor Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, abril 2000. 322 p.
ISSN 0104-0626 No. 10 392
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
Recuos
Ás vezes
o coração é só um oco,
por dentro
só um derramamento de sangue.=,
às vezes
a faísca
em meio ao nada
é só um brilho, brilho e só sopro.
às vezes
a onda
em meio à palavra
é só sílaba, só água
que se vê só por fora.
às vezes
os mortos estão só deitados
sobre as luzes
fingindo uma forma e um som
só acordando a paisagem.
às vezes
me desmancho só pela metade,
a outra parte inteira, só oca,
só um soluço acobertado.
Hortus conclusus
então é isso o poema
um naco de cal
um pouco de si
baço nuvem poça
um pouco de treva.
então não percebo a manhã
estirada em meu rosto
baça calcária perdida
ao meu encontro estendida
matriz de mares e verões
um ponto de trégua.
então de contrário se faz
maço de trevas e manhãs
o poema
um pouco de cal
poço de tréguas
meu rosto.
Túnel
a Neide Archanjo
Onde começa o poema?
nas mãos, embaixo das vestimentas, na ponta das páginas?
nesta pequena respiração que proclama algo escondido?
nesta idade?
onde principia em mim
isto que não é começo nem história
isto que se esconde
presente em cada fim de página
de vestimentas
de mãos?
uma valsa. um pacote. Um sobretudo.
caminha por golpes de ar e cena
o poema
oficina memória areia nave.
cruza e cinde,
sem vento
e superfície plana que os dedos tocam
sem contar
sem matemática
infinitamente.
*
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